"A POLÍTICA NO SANTOS É MUITO PESADA"

Publicado às 07h23 desta quarta-feira, 15 de junho de 2016.
Desde que deixou o Santos, após pedir demissão no fim de maio do ano passado, o ex-gerente de futebol, André Zanotta, volta pela primeira vez a Vila Belmiro. Desta vez como adversário. O jovem de apenas 36 anos é executivo de futebol do Sport, adversário do Peixe, na noite desta quarta-feira (15), em jogo válido pela oitava rodada do Campeonato Brasileiro.

Blog do ADEMIR QUINTINO fez uma longa entrevista com o profissional que ficou 36 meses na Vila, com três presidentes diferentes. Zanotta não se negou a falar sobre nenhum assunto. Dono de um ‘network’ invejável para o mundo do futebol, o poliglota (fala cinco línguas - português, inglês, francês, espanhol e italiano) relembrou do período em que esteve no Peixe e do seu futuro como profissional da área. 

ADEMIR QUINTINO: Como foi sua passagem pelo Santos em duas gestões diferentes, porém com três presidentes?
ANDRÉ ZANOTTA: "Foram três anos exatos (junho de 2012 à junho de 2015). Entrei como assistente do Felipe Faro na gestão do Luiz Álvaro e saí na gestão do Modesto Roma. Tive a honra de trabalhar com três presidentes (além dos dois citados, Odílio Rodrigues). Foram cinco treinadores nesse período - Muricy Ramalho, Claudinei Oliveira, Oswaldo Oliveira, Enderson Moreira e Marcelo Fernandes. Foi um grande aprendizado. Já tinha um imenso carinho pelo clube e após esse período, você se apaixona ainda mais pela história do Santos e um clube que você convive diariamente com essa história. Deixei grandes amigos. É um time que torço sempre para ter sucesso".
AQ: Você acredita que deixou algum legado?
AZ: "Deixei sim. O mais evidente é que dos onze titulares, participei das chegadas da maioria deles no clube ou de alguma renovação no caso dos pratas da casa. O Vanderlei, com o Enderson, trouxemos sem custos paro clube; o Victor Ferraz com o Oswaldo foi da mesma forma, não pagou-se nada. O Braz quando contratamos, tava desacreditado e hoje é uma liderança positiva.  O Gustavo, após a conquista da Copa São Paulo 2013, participei da renovação dele, assim como do Zeca, que ganhou a Copa, o ano seguinte. O Thiago Maia, a mesma coisa. A viagem para Africa do Sul foi um divisor de água na carreira dele, fez um torneio de Durban maravilhoso. O Renato, foi outro pedido do Oswaldo; o Lucas Lima foi uma observação do Sandro Orlandelli, o Gabigol participei de umas duas ou três renovações de contratos. Pouca gente sabe e fala mas foram muitos assédios de clube grande de São Paulo para tirá-lo do Santos. O Ricardo Oliveira foi uma grande aposta que a gente fez em 2015 e deu muito certo e o Vitor Bueno, que foi meu último ato no Santos. Eu iniciei a negociação e ela foi concluída, logo após a minha saída. Eu acho que é um legado importante. Assim que eu saí, o Santos chegou em todas as decisões das categorias de base do estadual, então creio que deixei uma sementinha boa e tem surtido efeito do que fizemos no passado. Fora outros jogadores como Caju, Daniel Guedes,o próprio Geuvânio que tava encostado e tornou-se importante. Conseguimos dar uma oportunidade pra trazer jogadores de qualidade".
AQ: Como vê enxerga o Santos atualmente dentro de campo
AZ: "Dentro de campo, o Dorival faz um trabalho brilhante. Cogitamos trazer ele antes de eu sair do clube e depois foi viabilizado. É um treinador que tem muita identidade com o Santos. O casamento entre o Junior e o Peixe é fantástico. O trabalho que ele fez o ano passado, foi formidável e este ano continua. Acho que o Santos tem chances de conquistar títulos importantes nessa temporada".
AQ: E fora das quatro linhas, qual a sua análise do clube no momento?
AZ: "Fora de campo, infelizmente, o ambiente no Santos é conturbado e isso atrapalha o foco dos profissionais no dia a dia. A política do clube é muito pesada. É muita gente trabalhando para atrapalhar o ambiente, querendo espaço e estar no poder. E gente querendo que o time vá mal para assumir. Eu peguei ano eleitoral, eu via vazamentos para a imprensa, questões internas que eram expostas de forma muito mentirosa para atrapalhar, poucos pensando no bem do clube. Então, eu vejo que isso infelizmente ainda continua, principalmente quando o time tem alguns resultados ruins e essas questões são mais exaltadas, mas isso é inevitável. Não é só um problema daqui, são de todos os clubes grandes. É intensa essa disputa política que tem no clube. Se o Santos conseguisse se unir, tem tanta gente boa para trabalhar no clube. Se isso acontecesse, esses problemas seriam evitados".
AQ: O seu papel no Sport hoje é muito diferente do que realizava no Santos?
AZ: "O meu trabalho no Santos e no Sport não difere muito. Sou responsável pelo futebol profissional e a base, da mesma forma que aqui era cuidar de negociações, renovações, todos os contratos, contratação de jogadores, comissão técnica. O trabalho do executivo de futebol é confundido com o do treinador, pois muitas vezes se atribui ao executivo a culpa pelo mal desempenho dos atletas contratados. Eu vejo um executivo com três funções: A primeira, a identificação de jogadores, obviamente esse trabalho não é feito sozinho e é feito por uma equipe que envolve treinador, auxiliar, preparador físico, analista de desempenho para identificar jogadores nas características que o clube precisa. A segunda, a negociação em si que é função do executivo, viabilizar a vinda do jogador quando negocia-se com o clube e atleta e a última é zelar pelo bom ambiente do profissional e da base. Cuidar dos pagamentos em dia, de cada detalhe das renovações, bicho, alimentação, fisiologia, equipamento e que todos estejam focados única e exclusivamente no trabalho para que aquele grupo tenha harmonia para poder render em campo e realizar o melhor papel em busca de vitórias. No Santos fomos campeões da Recopa e eu saí campeão Paulista. Tenho muito orgulho do bi-campeonato da Copa São Paulo, além da primeira Copa do Brasil sub-20, o título de Durban, fora as conquistas no sub-15,17 que tem menos visibilidade, mas também é uma satisfação enorme. No Sport, já temos algumas sementes plantadas. O clube nunca foi tão longe na Copa São Paulo como esse ano quando perdemos na quartas de final para o Cruzeiro e agora chegamos na final da Copa do Brasil sub-17, perdemos para o SCCP, mas foi um feito histórico. No profissional chegamos na final do pernambucano. Foi minha quarta decisão de estadual seguida, sendo três pelo Santos e uma pelo Sport. Acredito que apesar da dificuldade que começamos o Brasileiro, o clube vai crescer em breve".
André Zanotta trabalhou com três presidentes e cinco treinadores no Santos

AQ: Você participou da transição da gestão Odílio Rodrigues e Modesto Roma Jr. Por quê um número absurdo de jogadores entrando na justiça contra o Santos, assim que o novo presidente assumiu?
AZ: "Como te falei participei da administrações de três presidente em duas gestões diferentes. Por si só é um feito muito importante. É muito difícil  permanecer tanto tempo num clube da grandeza do Santos, ainda mais hoje com esse imediatismo da cultura do futebol brasileiro. Quando acabou a gestão do Odílio em 2014 e o Modesto me chamou para conversar foi uma honra muito grande pra mim, já que era uma gestão nova que chegava e oposição a quem estava, porém, ele me disse que tinha conversado com muitas pessoas próximas e todos tinham falado bem a meu respeito. Eu acho que pude contribuir naquela dificuldade que tivemos no começo de 2015 e aquela virada que demos, quando muitos não acreditavam, só nós mesmos, e conquistamos o título paulista e logo após a minha saída, o clube ainda chegou na final da Copa do Brasil e acho que essas sementes foram importantes em todo o trabalho que desenvolvemos eu, o Dimas, o Dagoberto, para que não saísse mais dos trilhos do que já estava. Verdade seja dita, o Enderson Moreira também foi fundamental para a gente poder ter a continuidade no ano, que a meu ver, foi vitorioso". 
AQ: E os atrasos de salários? Uma debandada de ações contra o clube. A que se deve o que aconteceu? 
AZ:"Quanto a atrasos de salário fugia da minha competência. Os pagamentos, a questão financeira para onde eram destinados, já que o clube vivia uma crise financeira muito grave em 2014, que culminaram numa série de problemas que causaram essa enxurrada de ações na justiça".
AQ: Pra finalizar, qual o teu futuro no futebol?
AZ: "Difícil responder. Quando entrei para o meio, minha ideia sempre foi a de mudar o cenário que vive o país, principalmente fora dos gramados e o reflexo vai para dentro do campo, então, meu sonho talvez seja uma utopia, mas é fazer com que o futebol brasileiro volte a encantar o mundo inteiro e que seja um modelo de organização. Óbvio que está muito distante ainda. Tenho vontade de fazer diferente do que vem sendo feito e eu quero buscar isso. Estou no dia a dia, incansável e na entrega exaustiva e intensa, tentando mudar essa cultura impregnada e trazer o que existe de modelo e exemplo fora daqui. A matéria prima, o Brasil é rico nisso, talentos surgem todos os anos. Precisamos saber cuidar e administrar o futebol para que seja motivo de orgulho dos brasileiros".   



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