EX-MENINO DA VILA AJUDOU A CHAPECOENSE EM SUA RECONSTRUÇÃO

Publicado às 14h05 desta quarta-feira , 20 de dezembro de 2017.
Como tantos "meninos da Vila", Victor Hugo ou VH, foi mais um a perseguir o sucesso e glória dentro dos gramados; mas foi fora dele, que encontrou seu espaço no futebol. Ele presta serviços a Chapecoense desde o começo do ano passado como analista de desempenho e ajudou na reconstrução do time catarinense após a tragédia.

Aos 37 anos e de competência reconhecida no mercado, Victor já trabalhou em diversos clubes da elite do futebol brasileiro, numa função hoje extremamente valorizada, e tida como fundamental dentro de qualquer comissão técnica.

Impossível não atrelar seu nome a uma das histórias de superação mais incríveis da história do esporte.

Nessa entrevista exclusiva ao Blog do ADEMIR QUINTINO, o profissional revela não apenas  os bastidores dessa improvável reviravolta, como também esclarece ao público os detalhes de sua função, comenta seus planos para o futuro, e cita sua relação com o Santos FC.

Blog do ADEMIR QUINTINO: Comente sobre o processo de reconstrução da Chapecoense; e qual foi sua participação nesse renascimento do clube?
VICTOR HUGO: "Cheguei em Chapecó em janeiro de 2016 à convite do diretor de futebol Mauro Stumpf para criar o departamento de análise e scout do clube. Naquele momento Guto Ferreira era o treinador, e  ganhamos o título estadual, que fazia certo tempo que o clube não conquistava. Chegamos em fase avançada da Copa do Brasil que o clube ainda não havia atingido, mas houve a troca, Guto foi para o Bahia e chega o saudoso Caio Junior e  nossa equipe engrenou na Sul Americana, chegamos a final e a história todos conhecem. Ainda é de certa forma surreal tudo que vivemos, não é tranquilo para mim falar no assunto".
BAQ: Como foi o pós-tragédia. Você podia estar naquele avião, não?
VH: "Dia seguinte ao velório já começaram os trabalhos; chegada de nova direção, do treinador Vagner Mancini. Foram dias difíceis aqueles de dezembro, apesar de já termos um banco de dados criado com atletas monitorados, não seriam contratados 25 atletas no planejamento de 2016, porém com a tragédia, fez com que trabalhássemos perto de 20 horas por dia, meu papel foi analisar atletas, fiz 105 análises em 7 dias,  valeu à pena! No primeiro campeonato da temporada conseguimos o bi-campeonato estadual, fomos bem na libertadores e o clube segue sua vida com plenitude. Tenho o sentimento de dever cumprido, atingindo e superando metas pré-estabelecidas".
BAQ: Você foi formado como atleta nas categorias de base do Santos, em meados dos anos 90. Como foi sua transição de atleta para analista de desempenho?
VH: "Meu começo foi no futsal, atuei alguns anos na Perdigão até migrar pro campo aos 13 anos, cheguei no Santos em 1993. Naquele tempo não existia minha categoria, treinava com atletas até 4 anos mais velhos, até que no ano seguinte criou-se a categoria dente de leite e ficou melhor. Sai e voltei entre juvenil e junior, cheguei a voltar pro futsal, mas já estava na faculdade, entrei com 17 anos e não fui a diante. Após período empreendedor, tentando projeto ali, negócio acolá, aos 26 anos voltei ao futebol, mas dessa vez fora do campo. Trabalhei com Oscar Bernardi (zagueiro da Sel. Brasileira na Copa de 82), no seu centro de treinamento que acabou se tornando um time profissional, o Brasilis FC. Alguns anos passaram de estudo e aprimoramento, na ocasião ainda não havia a nomenclatura analista de desempenho nos clubes como hoje, e o Santos havia perdido de 8 a 0 do Barcelona, em 2013; primeira temporada pós Neymar. O peixe jogaria com o Galo na Vila, pelo Brasileiro daquele ano, havia um receio de que uma goleada naquele jogo seria o caos. Apresentei o projeto para diretor Nei Pandolfo, supervisor Carlos Eiki e o Claudinei Oliveira (treinador), fui aprovado e iniciamos o trabalho. Após o Santos, já foram 7 clubes e 14 treinadores".
BAQA função de analista de desempenho é relativamente recente dentro do futebol. Quais as atribuições de um analista de desempenho, e como você avalia a importância desse profissional para os clubes?
VH: "Mesmo denominado como analista de desempenho, vejo a função como analista de futebol. Todos os aspectos são analisados e estudados. Equipe adversária é analisada de forma coletiva e individual,  disponibilizando através do portal do atleta acesso as informações de forma prática. Este seria o trabalho de pré-jogo. Durante o jogo assistimos do alto e durante o intervalo são passadas informações de scout e vídeo de situações pontuais. Na sequência temos o pós-jogo, atletas recebem seu vídeo de participações individuais e scout individual da partida, além disso é disponibilizado o conteúdo para acesso com todos os segmentos da partida, pode ser visualizado o jogo completo (apenas bola em jogo média de 60 minutos), momentos do jogo, bolas paradas, organizações ofensivas e defensivas, transições e mais. Hoje quase numa totalidade, os clubes possuem no mínimo um analista, mesmo que ainda não tenham um departamento formado com protocolos estabelecidos como nos clubes europeus, caminham para isso, em qual velocidade ? Não sei, varia de clube pra clube, de gestão pra gestão. O departamento de análise minimiza os erros e potencializa as virtudes, durante os campeonatos e durante o período de análise e formação de elenco".
Victor Hugo trabalha como analista desde 2013.
BAQ: Qual sua trajetória profissional como analista, e como você avalia sua carreira até então?
VH: "Iniciei na série A em 2013 no Santos, passei por Goiás, Paraná, Joinville, Estoril, Luverdense, Avispa Fukuoka e Chapecoense . Alguns presencialmente outros à distância como por exemplo Avispa do Japão e Estoril de Portugal). Hoje mesmo já tendo recebido convites para se tornar auxiliar técnico, ainda vejo que clubes necessitam de projeto e do trabalho que executo como analista. Minha contribuição com o futebol brasileiro neste sentido ainda não cessou. Tenho na Chapecoense meu case de sucesso da carreira, mas sempre busquei desafios e metas que me fizessem evoluir.
BAQ: Você foi um dos precursores na áreaAinda existem algumas ideias ou projetos novos nessa área que desejas colocar em prática?
VH: "Realmente fui pioneiro em análise de desempenho individualizada e na transmissão online de conteúdos para comissões técnicas e atletas. Mas tenho sim um projeto com relação à base que considero inovador, mescla do que vi por onde passei com conceito dos esportes americanos de controle de metas de scout. Precisamos diminuir drasticamente a subjetividade no futebol, como diz o título do livro - A bola não entra por acaso. Hoje, o futebol é um grande negócio, não podemos dar espaço para achismos, todo investimento precisa ter embasamento e relação de custo benefício.  
BAQ: O fato de ter ser "filho da baixada", e de já ter servido o Santos FC, tanto como atleta quanto analista, pesa ou o motiva a querer voltar a cidade e trabalhar no Peixe?
VH: "Hoje posso afirmar sem receio de que 2013 quando trabalhei no Santos com Claudinei Oliveira foi o ano mais difícil da minha carreira, claro que havia uma motivação a mais e a vontade de deixar um legado no clube. Infelizmente, o Claudinei Oliveira foi demitido no final da temporada e eu fui pro Goiás dar continuidade no trabalho com ele.  Mantive e mantenho contato com pessoas ligadas ao clube, acredito que as pessoas que assumiram o clube farão um bom trabalho, pelo que sei são pessoas com muita vontade de alinhar o Santos com a sua história. Não tenho como negar minha ligação com o clube, nasci em Santos, meu sobrenome tem Santos e Nascimento do Pelé, sou do signo de peixes como você Quintino e joguei no clube. Um dia voltarei ao Santos, tenho convicção disso".
BAQA obrigatoriedade de se acompanhar de maneira quase que total o dia dia do futebol, avaliando questões técnicas, táticas e de mercado, certamente dão ao analista uma visão macro do esporte. E creio que esse background possibilite desempenhar outras funções dentro do meio. Faz parte de seus planos se transformar em treinador, ou mesmo em trabalhar em cargos que mesclem a área técnica com administrativa, como Diretor ou Gerente de Futebol?
VH: "Interessante esse pegunta. Alguns analistas migraram de função e deram certo. Apesar de desejar e planejar sobre o futuro, geralmente o que vem acontecendo na minha carreira  não tenho previsto, pretendo continuar me aprimorando. Veja o exemplo do Fabio Carille, técnico campeão brasileiro; que esperou nove anos para ser o treinador. Claro que pretendo evoluir dentro do futebol, sempre buscando ser relevante no processo, isso é o que mais me importa".
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