DÚVIDA CRUEL

Publicado às 09h57 desta terça-feira, 14 de julho de 2015.
(*) Por: Felipe Takashi

Em meio às falácias dos profetas do apocalipse, espalhados em todas as esquinas, que decretam a falência moral e financeira do Santos em futuro próximo, aproveito espaço dado pelo amigo Ademir Quintino para propor, sugerir, indagar:

Afinal, Vila Belmiro ou Pacaembu?

Essa é velha. Aliás, essa é chata. Talvez, seja a discussão mais patética em torno do clube. O paulistano diz que o santista de Santos é acomodado, já o morador da província enfatiza que o “Santos é de Santos”. 

Imbecilidade.

Outra coisa, pare de comparar o Santos com os outros grandes clubes do Brasil. O Santos é diferente. Diferente por que é um clube de província que superou as limitações geográficas e midiáticas para conquistar um cartel incomensurável de taças e o coração de OITO MILHÕES de torcedores. Caso raro no mundo. Se é um clube diferente, deve, portanto, possuir um modelo de gestão diferente, inovador e criativo.

Quem tem crianças por perto, deve conhecer um jogo chamado “Lego”, brincadeira infantil que reúne peças para formar um objeto maior: É assim que deve funcionar a relação Vila Belmiro e Pacaembu para o Santos. Um se encaixa no outro, para que juntos possam alavancar a receita.

Como assim?

Pois bem, sair da cidade de Santos seria a pior coisa para o Santos. Sair da Vila Belmiro, idem.

Calma! Imagino que o amigo leitor esteja estupefato com a minha declaração. Aquietem seus corações, apesar de morar na Baixada, não sou provinciano. 

Sim, eu sei que o público em Urbano Caldeira se notabiliza mais pela ausência do que pela presença. Mas, o modelo comercial que impera nos jogos do Peixe é similar ao que Nero usava quando reinava em Roma para promover as lutas no Coliseu.

Retrógrado. Obsoleto. Arcaico. Nefasto. 

É o modelo tira a responsabilidade do comerciante e joga para o consumidor. Lembremos que segundo o ex-diretor de marketing, Armênio Neto: “O torcedor do Santos não comparece, não tem jeito”. Pensamento que não é exclusividade dele. Também esteve presente nas gestões dos gestões seguintes.

Vamos comparar: Imagine que a Casas Bahia passe a vender televisões analógicas antigas, móveis quebrados e eletrodomésticos com defeitos; E depois de um fiasco retumbante de vendas, vir a público fazer críticas aos seus ex-consumidores que abdicaram de comprar os produtos da loja.

Faz sentido?

Pois bem, é exatamente isso que o Santos faz há décadas, não melhora a qualidade de seu serviço e reclama da ausência de sua torcida.

Eu sei, não contei nenhuma novidade. 
Eu sei, o modelo não funciona. 
Mas, e ai, qual a solução?

Primeiro passo, deixar o ego de lado, deixar as crenças limitantes, arregaçar as mangas e, literalmente, começar tudo do zero.

Pera! 

Não estou dizendo que a Vila Belmiro deve ser implodida. Mas, a Vila Belmiro deve ser completamente modificada, deve ser esvaziada.

Como assim?


FOTO: Vila Belmiro vista de cima.
Para quem não conhece o estádio Urbana Caldeira, por dentro, a não é tão pequena quanto possa imaginar. Aliás, nas dependências da arquibancada dos portões 1/2 e 7/8, somada ao prédio em anexo a arquibancada das sociais estão alocados: 

-  Alojamento para as categorias de base e futebol feminino, ginásio poli esportivo, memorial das conquistas, loja oficial do clube, secretaria de atendimento ao sócio, plenário para o Conselho Deliberativo, salão de mármore, escritório administrativo, centro de preparo físico para as categorias de base entre outras coisas.

Muita coisa, não? 

Então, vamos imaginar tudo que disse acima fora da Vila Belmiro... Sobraria muito espaço!

Mas, aonde iriam esses setores importantes do clube?


FOTO: Fachada do CT Rei Pelé
Uma das boas propostas do candidato derrotado no último pleito eleitoral, Fernando Silva, era justamente essa que vos falo. Retirar setores da Vila Belmiro e transferir para um novo prédio que seria construído na Avenida Waldemar Leão, na fachada do CT Rei Pelé.

Isso abriria um espaço físico extraordinário no estádio para aproveitamento comercial e turístico de alto padrão. 

Lembra do Coliseu? Aquele de Roma, que citei acima? Então, há quanto tempo que essa arena não recebe uma luta entre bárbaros?

Faz muito tempo, amigo leitor. Mas, lhe pergunto, o coliseu entrou no ostracismo por causa disso?

Não. Evidente que não. Muito pelo contrário. Os romanos entenderam que o Coliseu passaria a ter outro papel na história. E hoje, centenas de anos depois de receber a última luta, o Coliseu é um dos pontos turísticos mais visitados da Terra.

Dada as devidas proporções, a Vila Belmiro deve seguir um caminho  parecido, não igual. 

Embora, seja difícil para os mais saudosistas reconhecer, o nosso santuário alçapão não tem mais condições de receber os grandes jogos e clássicos do futebol moderno, somente os jogos de menor apelo e nada mais. Mas, ao contrário do que afirmam os incautos, a Vila Belmiro ainda pode ser muitíssimo rentável ao Santos Futebol Clube.

O estádio centenário é o maior patrimônio turístico da região. É um templo mundial. Seu foco deve ser receber e tratar com carinho turistas e visitantes. Ter expediente comercial todos os dias. E mais, aproveitar 100% do espaço físico, cada centímetro da Vila deve ser para ganhar dinheiro, para ter memorial reformado e atualizado, lojas exclusivas, praça de alimentação com rede de fast foods, áreas de entretenimento interligados, gerando lucro para o Santos em tempo integral.


FOTO: Centro Histórico de Santos


Além do banho de loja no estádio, o Santos Futebol Clube tem de criar um departamento de Relações Institucionais, assim como proposto por outro candidato derrotado no pleito, Nabil Khaznadar. Uma macromarca como o Santos não pode ser objeto passivo das decisões governamentais. 

Por exemplo, o bairro da Vila Belmiro precisa ser reurbanizado com urgência. Padronizar os estabelecimentos comerciais e os meios de iluminação é mais que necessário. Um case de sucesso é o centro histórico da própria cidade de Santos. Com isso, o clube e o bairro ganharão holofotes de investidores, entrarão no círculo comercial, valorizando seu torcedor, o turista, o morador, e mais, valorizando o próprio patrimônio.

Utopia? Não, longe disso. 

Isso se faz da noite pro dia? Também não.

Mas, com um plano traçado em médio prazo, é perfeitamente possível atingir as metas estabelecidas em tempo que supra nossa carência.


FOTO: Estádio do Pacaembu visto de cima.


Tá, e o Pacaembu?

Bom, desculpe-me pelos exemplos minimalistas, mas imagine um comerciante, um empresário, proprietário de um elegante bistrô na Baixada Santista, que de repente, receba no colo, a possibilidade de abrir um belo mega restaurante no terreno mais bem localizado do Estado de São Paulo!

Você acha que ele em sã consciência, recusaria?

Pois então, esta é a situação que o Santos Futebol Clube atravessa. Desde que os rivais paulistanos passaram a administrar suas próprias arenas, o Estádio Paulo Machado de Carvalho e o Alvinegro Praiano estão na véspera de um casamento iminente.


FOTO: Ilustração de uma hipotética reforma do Pacaembu.


Mas, somente assumir o Pacaembu não serve. É necessário, assim como proposto na Vila Belmiro, modificar por completo o modelo comercial. O torcedor não é gado, para comprar, por exemplo, churros de qualidade duvidosa e sem a devida higiene por preço exorbitante.

Para tal, o clube pode firmar uma parceria com uma construtora e moldar a agenda para receber os jogos de grande apelo popular na temporada.

Para assim, atender sua grande torcida no estado jogando no Pacaembu. Atendendo sua cidade, transformando a Vila Belmiro em rentável centro comercial e turístico.

Sim, a ideia é ter dois estádios. Essa é a solução!


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