Postado às 13h50 desta segunda-feira, 18 de fevereiro de 2014. |
O ano era 1978. Eu nasci em 1973 e às vésperas da Copa do Mundo na Argentina, fui internado com o diagnóstico de menigite. Segundo os médicos do Hospital Ana Costa que me atenderam, eu contraí um vírus de rato no ar. Os dias se passavam e eu cada vez pior, quando um dos médicos chamou meu pai e disse-lhe: "Tudo vai depender do organismo dele. Vamos aumentar a medicação pra que ele possa se fortalecer".
A fé é capaz de tudo, sou testemunha disso e nas próximas linhas justifico a minha frase. O pediatra Jean Katler Filho, talvez sabedor do meu amor pelo futebol e principalmente pelo Santos, decidiu levar o principal jogador do Peixe a época até o hospital - Aílton Lira.
Aílton Lira, ao lado do centroavante Evair ex-Palmeiras, foram os maiores cobradores de pênalti que eu já vi em toda minha vida. O cerebral meio-campista também cobrava faltas como poucos. Dono de um toque de bola refinado e coordenador de jogadas de qualidade diferenciada, o meia chegou a Vila Belmiro indicado pelo técnico José Duarte, em 1976, vindo da Caldense. Por ironia do destino, o camisa 10 desembarcou na Baixada de contrapeso, pois o cobiçado pela diretoria do então presidente Modesto Roma era o zagueiro Neto.
Lira atuou em 149 partidas com a camisa do Santos. Marcou 39 gols com o manto entre 1976 à 1979, no famoso time dos "Meninos da Vila" ao lado de outros craques como Pita, Clodoaldo, Nílton Batata, Juary e João Paulo, para em 1980 se transferir para o rival São Paulo, onde também foi campeão estadual.
Coincidência ou não, após a visita que o jogador me fez no hospital, eu melhorei e depois de intermináveis 20 dias internados, entre a vida e a morte, inclusive reaprendendo a andar, voltei para a casa para a felicidade da minha família.
Lira fez milagre? Claro que não. Mas a felicidade de um menino de 5 anos, ao ver um dos seus ídolos de perto, pedindo-me pra que acreditasse em Deus, que eu iria melhorar é inenarrável. Confesso que pelo estado que eu estava (e pela pouco idade) me lembro muito pouco desse episódio.
Depois que me tornei radialista e jornalista já entrevistei Lira e até conversei com ele algumas poucas vezes, mas nunca tive coragem de contar essa história.
Nesta quarta-feira (19), Aílton Lira, aquele que de alguma forma me ajudou a permanecer neste mundo, completa 63 anos de idade. Como torcedor do Santos, desejo-lhe muitos anos de vida e agradeço-lhe por tudo que fez com a camisa alvinegra. Como cidadão, mesmo com o atraso de 36 anos, peço perdão por ter demorado tanto tempo e lhe digo: Muito Obrigado.
Hoje, já com alguns (poucos) cabelos brancos, tenho convicção que as orações dos meus pais e avós, a benção divina e a visita do Lira, me deram a oportunidade de sobreviver e ser feliz.
Hoje, já com alguns (poucos) cabelos brancos, tenho convicção que as orações dos meus pais e avós, a benção divina e a visita do Lira, me deram a oportunidade de sobreviver e ser feliz.