FUTURO PROMISSOR

Postado às 07h51 deste domingo, 2 de março de 2014
(*) Colaborou (e muito): Felipe Takashi

Melhor campanha do Paulistão/2014 até aqui, com 26 pontos em 11 rodadas, o começo de trabalho do Santos de Oswaldo de Oliveira é bastante animador. A proposta de jogo do treinador que retornou a Vila Belmiro, após nove anos, é ousada e bem aplicada. No texto de hoje, o amigo leitor é convidado a fazer uma viagem no tempo para relembrar times e desenhos táticos do Peixe ao longo dos últimos anos, e descobrir que a lição para o futuro, vem do passado.

Vamos voltar no tempo, doze anos para ser exato, e analisarmos o Santos, Campeão Brasileiro de 2002, comandado pelo técnico Emerson Leão.
Paulo Almeida era o ponto de equilíbrio para o apoio dos laterais, principalmente para Maurinho.
Um time lendário por realizar um feito histórico. Uma equipe pioneira no desenho tático. O 4-2-3-1 que hoje é a primeira opção de nove entre dez treinadores europeus, e ganhou vida no Brasil após o título do jovem e atrevido time alvinegro que deu a volta olímpica em cima do rival há mais de uma década. A proposta do time comandado por Leão era simples - Aproveitar a juventude da equipe para sufocar a saída de bola do oponente, e principalmente, jogar instalado no campo do adversário, com muito apoio dos laterais.
Santos instalado dentro do campo do adversário. O domínio territorial - Passe de André Luiz, gol de Robinho
Alberto, o centroavante do time, conheceu a "Disney do Passe"

Na direita, Elano no auge da carreira, apesar da juventude, com Maurinho voando baixo. Na esquerda, Léo no ápice e Robinho desabrochando. No meio, Renato e Diego organizavam a equipe com extrema elegância e inteligência. E se você não viu esse time jogar, acredite, até os zagueiros se mandavam pro ataque. Alex é o maior defensor artilheiro da história do Peixe e André Luiz também tem muitos gols. 

Abaixo, observe o segundo gol santista e perceberá a essência desse time tão especial.



O Santos 2002 só teve dois defeitos. Era demasiadamente jovem, o que no começo de sua jornada o deixou muito instável e às vezes vulnerável. O outro problema é que esse time não foi eterno, pois esse esquadrão poderia nos divertir e até o fim dos dias.
Sem referência na área, movimentação era a chave do time.
Em 2004, Vanderlei Luxemburgo abdicou do 4-2-3-1 de Emerson Leão e adotou o seu tradicional 4-3-1-2. Também conhecido como "losango". O meio de campo com Zé Elias (Fabinho) plantado a frente da defesa, Preto Casagrande auxiliando o lado esquerdo e Elano o direito, com Ricardinho centralizado como coordenador de jogadas, além de um ataque sem centroavante de ofício, com Robinho e Deivid . A única característica mantida do time de Leão era o apoio constante dos laterais Paulo César e Léo.

O Santos de 2004 foi brilhante no ataque. Anotou incríveis 104 gols em uma única edição do Brasileirão, recorde inalcançável até os dias atuais. Porém, era inferior ao de 2002.
Kleber era a única válvula de escape de um time extramente defensivo
Em 2006, novamente Vanderlei Luxemburgo. Porém, proposta de jogo totalmente avessa ao "DNA ofensivo" do clube e da filosofia do próprio treinador, mas extremamente eficiente. De certo, o campeonato paulista daquele ano que contava com os atuais campeões mundial e nacional, São Paulo e SCCP respectivamente, vencido pelo Peixe, foi o último trabalho fantástico do técnico que um dia já foi o melhor do país.

O Santos daquele ano jogava com uma "parede" a frente do seu próprio gol e passou oito jogos ininterruptos sem ter a sua rede balançada. Fábio Costa na meta; três zagueiros - Manzur, Luis Alberto Ronaldo Guiaro (Domingos); nas laterais - Fabinho e Kleber, mas só o segundo tinha liberdade para chegar ao ataque, o outro não passava do meio de campo. Maldonado, no melhor momento da carreira, se encarregava em proteger a cabeça da área. Cleber Santana, Leo Lima, Geílson (Rodrigo Tabata) e Reinaldo completavam a equipe que ficou famosa por "golear" sempre por UM a ZERO.
Coeso e equilibrado, era um time com potencial para ganhar a América.
Em 2007, Luxa saiu do ferrolho dos três zagueiros montado no ano anterior, para novamente montar um Santos com seu famoso losango (4-3-2-1). Com a chegada de bons reforços, ele percebeu que era possível montar uma equipe mais ofensiva. O time que no ano anterior, só atacava pelo lado esquerdo com a competência de Kleber. No ano seguinte, ganhou potência do lado oposto com o novo lateral Pedro que auxiliava Cléber Santana pelo setor. Rodrigo Souto e Maldonado garantiam a segurança na defesa e a qualidade do primeiro passe, Zé Roberto, recém chegado de uma exuberante Copa do Mundo, transitava por todos os setores do meio-campo e ditava o ritmo santista. No ataque, o time do "pofexôr" tinha o rápido Marcos Aurélio e um contestado, porém em crescimento - Jonas.

O time faturou o bicampeonato estadual, conseguiu o feito histórico de se classificar com totalidade máxima de vitórias para as oitavas de finais da Libertadores, sendo eliminado da competição pelo gol qualificado (fora de casa) do Grêmio nas semifinais, totalizando mais de 87% de aproveitamento ao longo do torneio. Tinha potencial para conquistar a América, mas uma rara atuação negativa tirou a chance do tri.
Robinho muitas vezes recuava para buscar a bola nos pés dos volantes
Chegamos ao saudoso ano de 2010. Para o melhor ataque que o Santos formou que eu tive o prazer de ver jogar. Repito, o melhor ataque, não o melhor time. O Santos de Dorival Júnior podia se comparar com um boxeador que não se defendia. Não havia nada de moderno no aspecto tático, um 4-2-3-1 com cara de 4-2-4. Mas sobrava ousadia e talento. Mais de 100 gols em menos de um semestre, dois títulos e a saudade que ficou guardada no coração do torcedor. 

Arouca era na prática, o único meio campista com responsabilidade de marcação. Marquinhos, Ganso, Robinho, Neymar e André pouco ajudavam sem a bola. Porém, compensavam quando a bola estavam em um de seus pés. Pura magia, qualidade e habilidade. Mas, ao contrário de 2002, esse time não era programado para recuperar a bola, deixava o adversário jogar e não tinha a potência nas laterais. Na esquerda, Léo já não tinha o mesmo vigor físico. Na direita, Wesley voava para atacar e pouco sabia marcar. Essa formação dos anos 60, muitas vezes sobrecarregou a dupla de zaga - Edu Dracena e Durval. Muitas vezes nos aproximou de um infarto. Quase fui a óbito na final contra o Santo André!

Se o Santos 2010 tivesse um treinamento para marcar a saída de bola do rival e fosse mais compacto, poderia ser facilmente, uma das maiores equipes do esporte contemporâneo.
Adriano foi peça fundamental para a melhora defensiva do Santos que era demasiadamente estático.
No início de 2011, o legado deixado por Dorival Júnior e mantido por Adilson Baptista era muito latente, ou seja, um time que fazia e sofria muitos gols. Então, após alguns resultados negativos, o Professor Pardal era demitido e Muricy Ramalho contratado. O Santos começava ali a passar por um profundo processo de engessamento, que a  princípio, foi positivo. Muricy colocou Adriano para proteger a defesa e declarou em entrevista:
"Um time com Neymar não precisa se preocupar, se a gente não sofrer gols, sabemos que a chance dele decidir e sairmos com a vitória é muito grande".
E com essa política de poucos riscos na defesa e apostando tudo com Neymar no ataque, o Santos conseguiu resultados excelentes a curto prazo: Bicampeão Paulista e Tricampeão da Libertadores.


Mas, como todos sabem, o desenrolar da história não foi tão bom como no início. Fazendo uma comparação exagerada, é como se o Santos tivesse vendido a alma para o Diabo para conquistar a América. O Santos abdicou da movimentação, da irreverência e de suas características, pagando um preço caríssimo na decisão do Mundial de Clubes contra o Barcelona e também na semifinal da Libertadores de 2012, contra o rival SCCP.

Sobre a passagem do técnico na Vila Belmiro, recomendo a leitura de um texto publicado em 31 de Maio do ano passado (mesma data da demissão do treinador no Santos) escrito pelo jornalista André Rocha, responsável pelo blog 'Olho Tático' no site da ESPN Brasil que retrata o legado que o técnico NÃO DEIXOU no Santos.
Transição da defesa para o ataque é o trunfo do time de Oswaldo.
Ufa! Chegamos a 2014 para falar do time de Oswaldo de Oliveira que simplesmente copia o desenho tático e a proposta de jogo do Bayern de Munique de Jupp Heickens (Campeão da UEFA Champions League 2012/13) de muita compactação entre os três setores, além de rápida transição da defesa para o ataque.
Robben e Ribery invertem posições e acompanham os laterais até o campo de defesa.
Não, não estou afirmando que o 4-2-3-1 do Santos este ano é o Bayern de Munique. Estou falando que a proposta de jogo e o desenho táticos são os mesmos, mas, obviamente, tecnicamente o time bávaro é infinitamente superior e dispõe de mais opções.

Pra finalizar, com raras exceções, todos os esquemas táticos supracitados deram certo graças ao material humano que o Santos revelou na base do clube. Na Vila Belmiro, craque não se compra e sim se faz em casa.


(*) Felipe Takashi é Coordenador de Comunicação e Marketing na Agência 360 Pixels e também é o web-designer responsável pelo Blog do Ademir Quintino.
                                

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